Minha paixão há de brilhar na noite

Cintilo paixão e vontades
Como morte de galáxia em ânsia
Enxergam-me a olho nu, apenas
Aqueles sensíveis
A magnitude de uma estrela-sonho
Aqueles que circuitam pelos anéis de Saturno
Num ritmo regrado por pernas devotas ao samba, bambas!

— Alana Marroquim, Jul. 2023

Arranjo de meus sussurros, concerto de tuas mãos

Quero tuas mãos astutas,

atentas a meu corpo,
Como se fazem atentas

E assíduas
ao corpo de teu lamuriento amante violão, praguejando

noite adentro

seu ‘blues’


Afina-me à meia noite, à meia lua, à meia luz!


Dedilha-me as cordas

De libidinoso rouco baixo —

Num denso e vagaroso jazz de lascivas vísceras —
como quem toca dedicado,

ainda que para platéia vazia.


Meus melhores acordes alcançam teu nome, apenas.


Sou sonora e gravemente tua.

— Alana Marroquim, Jul. 2023

Aguerrida e matutina

Pavor,
é de uma manhã que alvorece
em dívida com a luz do dia,
a permanecer adormecida
E cativa, emaranhada em lençóis de covardia.

Eu quero o sol de minha inocência
A aquecer e acender
toda manhã-coragem em mim
Afastando do toque gélido da malquerença
Aquilo que, de todo temor, ainda ousa despir-se.

Travo batalhas contra o toque avarento da melancolia. Aguerrida.

Não lhe dou ouvidos, não lhe empresto vida.

— Alana Marroquim, Jul. 2023

Aos ouvidos das estrelas

Eu empresto meu corpo a arte

Para que a morte não o leve embora

Eu empresto meu sangue a arte

Para que aceso, pólvora, não permita à vida

Apagar-me

Eu empresto minha voz a arte

Para que a rotina não emudeça

A eloquência de quem canta 

Segredos terrenos

audíveis apenas

aos ouvidos das estrelas.

— Alana Marroquim, Mai. 2023

Na calada da noite

Aquilo que inebria é demais
Aquilo que queima o ventre enauseia
Aquilo que fere o peito sufoca
Somos cardíacos pelo que se anseia
Sou um recipiente vazio
E ainda assim me aperta o peito
Guardo estrelas em combustão
No inaudível de meu sussurro
No reverberar de meu grito
Silêncio come o juízo
Pelas beiradas
E o que sobra, não vale muita coisa
Não vale a saliva.
Dicotomia dos infernos
Essa de ser mansa
E ainda fera
Dependendo dos braços que me envolvem
Das pernas abertas.
Eu quero um pouco de tudo
E ainda assim um pouco de nada
Quero terno e gravata
Quero fim de tarde
Óleo em tela.
Quero Aquilo que me tormenta
Quero Aquilo de rebuliço
Mas no fim do dia
Quero a Pasárgada
Sou excessivamente
Não suficiente
E isso me aprisiona
Fantasmas
Entre peito e língua
Palavras arredias
Que adormecem
Na calada
Da noite.
E na noite
Calada.

— Alana Marroquim, Dez. 2021

Você é homem agora?

Você é homem agora?
Ou apenas um garotinho que não sabe rezar à noite?
Porque sou mulher, e sabes
Pode trazer-me ao paraíso mais terreno possível? Pode tocar minha carne como se fosse chaga sagrada? Pode beber-me gemidos como quem bebe o santo sangue?
Pode calar minhas preces na boca e fazer-me herege?
Blasfemar comigo como que em línguas?
Pode fazer-me Santa, ainda que Suja?
E Suja ainda que Santa?

— Alana Marroquim, Nov. 2021

Parir silêncios

Angústia
É quando te esgota as palavras e te persevera os silêncios
Te reina o que te cala, e te apreende o que se sente
Te fogem os sentidos, te vocifera um silencioso rugido.
A agonia é de uma voz infértil quando nutrimos histórias fecundas.

— Alana Marroquim, Set. 2021