Os vultos de todas as mulheres que fui
cultuam e dançam no escuro do meu quarto
Encarnam meu corpo, meu sombrio fardo
Sussurram e conspiram contra meu mais recente retrato,
Uma na cama, outra no telhado;
Uma outra na penteadeira, me fitando um olhar atravessado;
E não trato de expulsa-las desse meu canto
É sagrado.
Menina loucura fala a língua das mais arduas revoluções;
Moça ternura canta sobre afagos;
Por sua vez, mulher bravura descansou na mansidão,
Numa eterna amargura de quem da desilusão, não se faz laço
Se é filho bastardo.
Nunca se vão, nunca me deixam
Deleitam-se sempre na minha aflição
Me desgastam o peito, faz-se calos no meu coração
Que cansa;
Que clama:
Tratem de me largar a mão! Me deixem ser frevo-mulher, permitam-me sentir o chão!
Me deixem gastar a sola dos meus sapatos
E deixar em toda ladeira de Olinda o meu rastro
Seja ferrolho ou tesoura, me deixem rasgar o passo!
E logo à margem da pele eu encontro
Tatuado;
Letras arranjadas num recado:
“Somos você ao avesso;
E ao quadrado;
Nos vista com orgulho
e apressaremos teu passo;
A cura está mais próxima do que teu passado,
Que agora corre ligeiro no sentido contrário;
Se afasta o rancor, se aproxima a ânsia;
Ganância.
Ja se faz hora;
Te resta frevar o agora.”
-Alana Marroquim Jun. 2018
Muito bom!
LikeLiked by 1 person