Eu, sirena de mim

Comporto intimamente, e muito mal, uma sofreguidão torrencial. Inundo-me num choro feroz, águas da mais tenebrosa “turvez”. A intermitência dos soluços me serve de distante e entorpecente farol. Eu, sirena de mim.

— Alana Marroquim, Mar. 2024

Minha paixão há de brilhar na noite

Cintilo paixão e vontades
Como morte de galáxia em ânsia
Enxergam-me a olho nu, apenas
Aqueles sensíveis
A magnitude de uma estrela-sonho
Aqueles que circuitam pelos anéis de Saturno
Num ritmo regrado por pernas devotas ao samba, bambas!

— Alana Marroquim, Jul. 2023

Aguerrida e matutina

Pavor,
é de uma manhã que alvorece
em dívida com a luz do dia,
a permanecer adormecida
E cativa, emaranhada em lençóis de covardia.

Eu quero o sol de minha inocência
A aquecer e acender
toda manhã-coragem em mim
Afastando do toque gélido da malquerença
Aquilo que, de todo temor, ainda ousa despir-se.

Travo batalhas contra o toque avarento da melancolia. Aguerrida.

Não lhe dou ouvidos, não lhe empresto vida.

— Alana Marroquim, Jul. 2023

Aos ouvidos das estrelas

Eu empresto meu corpo a arte

Para que a morte não o leve embora

Eu empresto meu sangue a arte

Para que aceso, pólvora, não permita à vida

Apagar-me

Eu empresto minha voz a arte

Para que a rotina não emudeça

A eloquência de quem canta 

Segredos terrenos

audíveis apenas

aos ouvidos das estrelas.

— Alana Marroquim, Mai. 2023

Fadiga

Exaustão é um peso que carregamos, de lágrimas não derramadas, quase que cativas, de olhos relutantes a liberdade de um choro bem chorado. É uma rouquidão consequente daquilo tudo que não se diz.

Alana Marroquim, Ago. 2022

Coração-cinzeiro

Me sopraram morta
Remanescente faísca do peito.
Agora meu coração
nada mais é
do que teu cinzeiro
Bituca de teu falho afeto
Alço então,
voo vermelho,
E como fênix
Faço do fim, o meu (re)começo.

— Alana Marroquim, Jul. 2022

Na calada da noite

Aquilo que inebria é demais
Aquilo que queima o ventre enauseia
Aquilo que fere o peito sufoca
Somos cardíacos pelo que se anseia
Sou um recipiente vazio
E ainda assim me aperta o peito
Guardo estrelas em combustão
No inaudível de meu sussurro
No reverberar de meu grito
Silêncio come o juízo
Pelas beiradas
E o que sobra, não vale muita coisa
Não vale a saliva.
Dicotomia dos infernos
Essa de ser mansa
E ainda fera
Dependendo dos braços que me envolvem
Das pernas abertas.
Eu quero um pouco de tudo
E ainda assim um pouco de nada
Quero terno e gravata
Quero fim de tarde
Óleo em tela.
Quero Aquilo que me tormenta
Quero Aquilo de rebuliço
Mas no fim do dia
Quero a Pasárgada
Sou excessivamente
Não suficiente
E isso me aprisiona
Fantasmas
Entre peito e língua
Palavras arredias
Que adormecem
Na calada
Da noite.
E na noite
Calada.

— Alana Marroquim, Dez. 2021